Os compromissos com o futuro

 

            Hoje eu fiz um compromisso grande com a Karine do futuro. Fui ao médico e agendei a inserção de um DIU, isto 6 meses depois de ter retirado um DIU que ficou comigo por 3 anos. Ok, inserir um novo DIU parece estar dentro de um plano geral que é de conseguir um emprego estável, comprar um casa, casar e só assim ter filhos. Mas é certo que eu também por várias vezes me pego pensando que hoje, aos 28 anos, a menos de 1 ano para finalizar meu mestrado, ter um filho que não seria propriamente um problema, da forma que era um problema até 3, 4 anos atrás.

          E isso inegavelmente me fez ter vários pensamentos.

         Quando é que foi que a chave virou e eu deixei de ser uma jovem perdida, sem nenhuma estabilidade, com mil planos e ter um bebê significaria sacrificar todos estes planos? Eu tenho mil objetivos, mas a questão é que gerar uma nova vida me parece algo muito mais importante que viajar para outro continente, conseguir um bom emprego, comprar um casa. Mas isso não seria loucura demais? Eu que vim de um lar em que ninguém nasceu a partir de um planejamento, sei muito bem o peso de se ter um bebê sem nenhum estrutura. Mas será que os bebês provenientes de muito planejamento são, de fato, mais felizes? É certo que eles também têm problemas, no entanto, parte destes problemas certamente não passam por cuidar do irmão mais novo, não ter roupas novas por falta de dinheiro, uma mãe que pena demasiadamente para encontrar vaga em creche e outros como esses.

Atualmente estes são os únicos bebês que eu posso me dar
ao luxo de ter: Dora e Bebel


        Eu também sei que a escolha de não ter um bebê tem a ver também com o turbilhão de dúvidas que surgiram nos últimos meses. Se a Alemanha me proporcionou o contato com uma cultura muito diferente da minha e me impulsionou meus estudos, ela também me trouxe para um lugar muito dentro de mim. Sem sol e sem barulho, eu precisei navegar profundamente em mim (e esse blog é a prova disso). Eu comecei a pintar e desenhar, li mais livros, assisti mais documentários, escrevi muito sobre assuntos não jurídicos, e tudo isso Portugal ou o Brasil nunca poderiam me proporcionar. A verdade é que estes ambos países me trazem muito barulho. Isso é bom porque me faz silenciar algumas vozes que falam dentro de mim, mas eles também atrapalhar o processo de ouvir a voz que tem mais razão.

        Hoje voltando da consulta, eu ouvia um podcast sobre a sincronicidade, um conceito estudado pela psicanálise e que basicamente se configura com "coincidências" do mundo exterior com o mundo interior e que te ajudam a dar uma luz sobre aquilo que o inconsciente quer dizer. No exemplo dado pela Regina, Carl Jung atendia uma paciente que contava sobre o seu sonho com um escaravelho dourado e, durante a sessão, um besouro bateu na janela de vidro, o que foi uma enorme coincidência naquele momento. Mas para Jung, isso não é só uma coincidência. Para o psiquiatra, algumas coisas acontecem no plano material para materializar e ajudar com o que o nosso inconsciente quer dizer.

        E nessa, eu comecei a pensar o quanto este Erasmus no inverno em Hannover veio a calhar com um período em que eu passei a ter enormes questionamentos sobre minha vida. Minha psicóloga, por sua vez, analisou que isso não é só coincidência, mas que essas dúvidas sobre mim sempre estiveram aqui, só que os eventos exteriores não me deixavam escutar. Do pouco que eu entendo sobre psicanálise, eu vejo que no Brasil e em Portugal, o meu ego (na concepção analítica) fica muito bem servido, já que aqui eu consigo preencher todos os tópicos que o ego acredita que fazem bem pra mim. Só que o meu ego nem sempre sabe o que é melhor pra mim, ele só quer ser amado e aceito. Somente quando eu consigo estar em algum lugar em que o meu ego não fica bem, o meu inconsciente, aquela voz profunda que mora em mim, consegue se fazer ouvida. E nela eu vejo aquilo que eu realmente quero, mas que externamente eu sei que a escolha não vai me fazer ser amada ou mais aceita. Isso é muita loucura, mas pra mim faz muito sentido.

        Bom, eu não deveria estar escrevendo tanto agora, já perdi muitas horas de trabalho hoje. Eu só vim cumprir com o que meu ego, inconsciente ou minha fome pediram. A Karine de verdade queria era estar cumprindo prazos ;P (será?). Dito isso, eu volto em breve!


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