E lá vamos nós, mais uma vez




  

            Esse é um blog que eu criei enquanto adolescente (fase em que eu era muito cringe, por sinal) e que me serviu por muito tempo como uma forma de dar vazão ao que eu pensava. Eu fui uma adolescente apaixonada por escrever e essa era uma forma de me conectar comigo mesma. Comecei muito cedo, com 9 anos eu já tinha um diário para anotar os meus sonhos, anseios, paixões, as roupas que eu queria comprar, a minha relação com minhas amigas e isso é algo que me acompanha até hoje, aos meus 28 anos (são quase 20 anos escrevendo e escrevendo). É claro que hoje o teor dos meus diários não chega nem próximo das listas das músicas que eu mais gostava, dos meus desabafos de como meus pais não me deixavam fazer nada ou como o menino que eu gostava não tinha olhado pra mim na escola, mas isso são outros quinhentos (na verdade, saudades de ter estes problemas para escrever).


          Inclusive, nas minhas últimas férias no Brasil (olha só Karine, quem diria que em 2024 você estaria morando na Alemanha, sofrendo demais com o frio - o clima que você amava - lidando com uma língua difícil, com a dificuldade de se conectar com as pessoas, equilibrando tudo isso com trabalho e mestrado) eu organizei no meu antigo quarto a minha pasta de diários e confesso que foi bem estranho ler tanta coisa e tanta opinião que hoje para mim nem fazem mais sentido.


        Eu decidi voltar a escrever neste blog depois de uma viagem intensa que fiz no meu último aniversário. Fui para Amsterdã comemorar a chegada dos 28 e lá tive o prazer de visitar o Museu Van Gogh. Foi uma experiência magnífica, aquele homem realmente era um gênio e as obras, junto com a história daquele pintor excepcional, me fizeram voltar para Karine do passado e entender que eu também tenho um instrumento muito precioso e que serve para dar vazão a tudo aquilo que eu sinto. E o que eu sinto não é pouco.


          Um dos pontos que mais me marcaram na visita daquele museu é o quanto de obras o Van Gogh produziu nos 37 anos de vida (o museu é gigante e ainda não guarda todas as obras do pintor) e como a pintura servia para expressar o que ele enxergava sobre o mundo. Mesmo com tanto talento e obras, existia algo dentro dele difícil de compreender e de lidar. Diante disso e dos conflitos da época, ele, por conta própria, decidiu se internar para tratar daquilo que para ele era tão custuoso e árduo de conviver. Bom, o final da vida dele e a repercussão da sua vida nestes quase 134 anos depois de sua morte nós todos sabemos.


       Essa é uma das principais obras de Van Gogh e um dos 
quadros em que passei mais tempo analisando (e também
uma das poucas imagens em domínio público)


        Outro ponto importante que marcou tanto e que me fez redigir anotações em um bloco de notas enquanto visitava o museu é o quanto de senso de justiça aquele homem tinha. Em uma das suas pinturas (que me fez chorar algumas lágrimas) que é chamada de "Comedores de Batatas", ele retrata a realidade dos camponeses daquela época. A obra em si é muito marcante, porque mostra medo, escuridão, fome e temor dentro daqueles rostos magros e aflitos (lembrando agora enquanto estou de TPM sinto vontade de chorar de novo). E muito além daquele medo refletido na imagem, o que mais me chocou foi a reação dos colegas pintores de Van Gogh, que analisaram a pintura como negativa e um dos piores feitos do artista - ainda que o próprio Van Gogh tenha analisado aquela imagem como uma de suas melhores obras. Realmente, uma grande injustiça com nosso gênio.


        A senso de justiça daquele homem somado à incompreensão dos artistas que o permeavam me tocou muito. Olha só, Van Gogh hoje é um dos principais pintores da história e todo o glamour e fama reservados para ele hoje não existiam quando ele estava vivo (inclusive me chocou muito em saber que o seu nome é utilizado por instituições financeiras, como uma forma de agrupar clientes seletos e especiais, o que em nada se assemelha com a personalidade daquele homem). Mais uma vez, ele sendo incompreendido.


            Agora eu não sei descrever o quanto toda esta história me  trouxe a voltar a escrever, mas consigo resumir que a arte faz isso com a gente: ela nos toca em partes que palavras, conselhos ou a razão não consegue tocar. 


            Dito isso, muito obrigada, Van Gogh!

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