O desejo e a angústia

                O desejo e a angústia têm se tornado um ponto de muita dúvida dentro da minha cabeça. É fato que esse ano tem sido repleto de mudanças em muitos aspectos da minha vida e entender a forma que minha cabeça e meu inconsciente funcionam têm me ajudado a não me colocar em ciladas, isto é, não deixar que meu desejo furado projete uma vontade que não existe. E isso é complicado, porque a gente se engana demais. 


                    Vou explicar tal qual eu explicaria para uma criança: a nossa mente muitas vezes projeta alguma coisa muito legal. Ela vê em alguma sombra uma luz, uma saída para um problema que nos angustia. Acontece que muitas vezes esse problema que a mente inventa NÃO EXISTE! Ele é só uma dúvida, uma projeção. E porque essa projeção existe? Porque existe uma outra falta por trás, que a gente não sabe lidar. E vamos somar outro ponto importante nessa fórmula: a imaturidade. Não conhecer da vida, dos processos, do que realmente é importante, nos torna propensos a acreditar em certas sombras que, na realidade, são só sombras.


                Mas daí vem a questão: tem como fugir da imaturidade? Tem como pular essa etapa? E eu te digo: não tem. Você vai precisar passar esses percalços com muito constrangimento, confusão, dúvida, dores e angústia. É, sabe porque admiramos tanto os conselhos dos mais velhos? Porque eles já passaram por tudo isso e puderam refletir. Mas acontece que sabedoria infelizmente não se aprende com um livro, ouvindo conselhos e estudando com um professor da área (em época de gurus de internet, não se surpreenda com quem queira comercializar a sabedoria). Você precisa viver na pele pra entender um pouco mais da vida.


                A gente razão pelo qual não é possível aprender a ser sábio é porque a sabedoria envolve dois pontos importantes: ter paciência e saber o que se quer. Ok, paciência é algo gradativo, se constrói com o tempo. É lidar com os processos e esperar que cada etapa se conclua em seu tempo. Agora saber o que se quer... Aí meu amigo, essa é uma tarefa exaustiva! Estão aí a psicologia, a psicanálise e tantas outras áreas da ciência nos mostrando que a gente precise de muito tempo e reflexão para entender o que a gente quer. Pra mim, isso parecia tão simples, tão normal. Que a dúvida é aquilo que paira sobre o que se quer numa profissão, ou no que jantar num sábado, se compra um salto fino ou uma sandália confortável, se viaja para praia ou para o campo. Todavia, na realidade essa é a parte mais simples da angústia e da dúvida. Quando você chega num estágio que quer entender o que de fato você quer, isso se torna mais complicado.


                Esse blog é meu, então vou explicar a minha perspectiva: eu sempre me achei muito decidida e pragmática em vários aspectos da minha vida. Mudei de curso da graduação quando entendi que Jornalismo não seria uma boa opção de carreira ante a perspectiva do Brasil e do mundo, migrei para o Direito e tenho sido certa plenitude e felicidade nessa escolha (nunca me arrependi de ter feito direito. O que me angustia são as possibilidades de caminhos dentro desta área, mas me sinto plena dentro desta área de conhecimento). Eu tinha um namorado quando mais jovem e assim que percebi que não gostava mais dele, eu terminei, sem muito titubear. Eu queria fazer um mestrado no exterior, mas não consegui exatamente na faculdade e no país que queria. Alterei meus planos e fui muito feliz com essa escolha.


                Porém, muita coisa mudou depois do mestrado. Eu sinto que vou perdendo essa ânsia da juventude, dessa possibilidade de errar, de experimentar, sem ter consequências. Agora, aos 28 anos, eu venho buscando cada vez mais o conforto, a estabilidade, entender o que eu quero e dentro desse plano e desta vontade, experimentar já não faz mais sentido pra mim. Daí vem o ponto: de onde vem essa mudança? Sim, eu era muito feliz tendo aquela perspectiva. Porque agora aqueles anseios já não fazem mais sentido?


            A grande resposta é que eu não sei. E esse novo desejo me angustia, porque ele é o oposto do que eu era antes, ele é um desconhecido. Mas muita coisa é desconhecida pra mim. Perder minha mãe foi desconhecido. Encerrar um relacionamento de 6 anos foi desconhecido. Voltar para o meu país depois de ter sonhado tanto em migrar é muito desconhecido. Mas eu banco isso. Eu banco?


                E tem outro ponto muito importante: nesse processo de entender meu desejo, eu tenho experimentado coisas que antes era um objeto muito grande de desejo. E a realidade foi totalmente frustrante. Está certo, foi uma coisa mediana, teve seu proveito. Mas esteve muito aquém do que eu imaginava. Eu sei que a realidade tende a ser frustrante, porque na nossa imaginação tudo é perfeito e não tem percalços. Mas eu não imaginava que a quebra de expectativa seria tamanha.


                Viver é uma eterna descoberta. A angústia tem um espaço muito grande na vida e ela tem razão de ser: é pela angústia que nos movemos, que buscamos descobrir o que a gente quer ou o que finge querer. O desejo também é objeto de angústia. O meu medo é ser rasa, mas sei que o aprofundar nos leva a caminhos estranhos. 


                Que eu nunca me canse em me descobrir e entender de onde vem tanta inquietação.

                     

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